Com 17 anos de experiência e há três como enfermeiro do setor de Promoção e Atenção à Saúde do Servidor do Núcleo Estadual do Ministério da Saúde no Rio de Janeiro (PASS/Nerj), Jadson Andrade revela que também entre os trabalhadores da saúde o uso indevido de medicamentos é um problema que preocupa. “Por vezes, servidores ou funcionários chegam até nós solicitando remédios ou a administração de medicamentos sem a prescrição médica. Os remédicos mais procurados aqui no setor são os analgésicos”, revela. Nestes casos, explica, as pessoas são orientadas pelos profissionais do PASS a procurarem um médico.
“Tomar remédio para tirar a dor sem que se investigue a causa é um perigo. A dor é um alarme do corpo para um problema. É preciso saber qual a causa. Simplesmente fazer uso de um medicamento por conta própria pode mascarar uma doença ou um problema mais grave”, alerta Jadson.
Muitos remédios, como determinados tipos de analgésicos, antitérmicos e anti-inflamatórios ainda são vendidos nas farmácias sem a necessidade de apresentação da receita médica. E, para aqueles que buscam alívio rápido para um incômodo que consideram ser apenas momentâneo, a compra de medicamentos sem receita médica pode parecer o caminho mais fácil. Todavia, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o percentual de internações hospitalares provocadas por reações adversas a medicamentos ultrapassa os 10%.Entre as reações adversas resultantes dessas práticas, podem ocorrer desde alergias mais brandas até um quadro de choque anafilático (reação de hipersensibilidade imediata que pode levar a morte). “Um simples analgésico, do qual a pessoa já está acostumada a fazer uso, pode levar a isso”, destaca Jadson.
Interações e dependência
Embora tenham relação entre si, a Anvisa classifica o uso indevido de medicamentos em duas práticas distintas: a automedicação e o uso indiscriminado de medicamentos. A automedicação ocorre quando os remédios são usados por conta própria ou por indicação de pessoas não habilitadas, mas sem a avaliação de um profissional de saúde. Já o uso indiscriminado de medicamentos é mais amplo e está relacionado ao consumo excessivo e constante destes produtos, mesmo que com receita médica.
De acordo com a farmacêutica Lúcia Habib, a automedicação tem sido uma prática cada vez mais comum entre os brasileiros. “Muitos são os perigos de se ingerir medicamentos sem o conhecimento de um médico e/ou orientação de um farmacêutico. Alguns medicamentos podem ter seus efeitos potencializados ou até mesmo anulados quando administrados com outras medicações, determinados alimentos e bebidas alcoólicas”, aponta.
Entre os exemplos de interações medicamentosas mais frequentes, a farmacêutica cita os medicamentos ansiolíticos, que deprimem o sistema nervoso central, e podem causar dependência. Associados ao uso de álcool, essas drogas têm seus efeitos potencializados, levanto até mesmo à morte.
Lúcia é facilitadora da Câmara Técnica de Farmácia e Câmara Técnica de Controle e Combate de Infecção Hospitalar do Departamento de Gestão Hospitalar (DGH), órgão responsável pela administração dos seis hospitais federais do Ministério da Saúde no Rio de Janeiro.Quanto ao uso indiscriminado, sem obedecer à dosagem e intervalos prescritos, ela explica que medicamentos possuem “janelas terapêuticas”, isto é, a diferença entre a concentração mínima eficaz e a concentração tóxica. Quanto menor essa diferença, maior o risco para a vida do paciente. “Cada medicamento recebe uma classificação de risco e quando este apresenta uma janela terapêutica muito pequena pode ser muito perigoso. O paracetamol, que parece ser tão inofensivo, tem uma substância que atua numa enzima do fígado que, em dosagens excessivas, inibi a função hepática. Se uma pessoa ingerir quatro cápsulas de paracetamol ao mesmo tempo pode até morrer.”
O caso dos antibióticos
O uso inadequado de medicamentos pode colocar em risco não apenas o próprio paciente, mas as pessoas a seu redor. No final de 2010, a venda de antibióticos (usados no tratamento de infecções causadas por bactérias) sem prescrição médica foi proibida pela Anvisa. Entre os motivos, estava o aparecimento de bactérias super-resistentes.
Mesmo após esta medida, muitas pessoas ainda acabam conseguindo um “jeitinho” de ter acesso a antibióticos sem passar pela avaliação de um médico, seja com familiares, vizinhos ou amigos que no momento fazem uso desses remédios.
A esse respeito, Lúcia alerta: “antibióticos são medicamentos de alto risco, uma vez que as bactérias são micro-organismos perigosos porque podem sofrer mutações”. Conforme a farmacêutica, o indivíduo que utiliza indiscriminadamente antibióticos apresenta grande probabilidade de criar resistência ao medicamento. Além disso, muitos efeitos adversos são comuns em pacientes que fazem uso contínuo e inadequado desses medicamentos, como destruição da flora intestinal e aumento dos glóbulos brancos, podendo até mesmo levar o paciente a contrair uma leucemia (câncer no sangue).
Por isso, antes de fazer uso de qualquer medicamento, fique atento: procurar um médico e a orientação de um farmacêutico é fundamental para sua saúde.
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